11 julho 2005

Texto de Gibran

Gostei deste texto. Uma amiga mandou para uma lista de amigos agora.

"Na hora mais sossegada da noite, quando me encontrava meio
adormecido, meus sete Eus sentaram-se e assim conversaram, em
sussurro: Primeiro Eu: Aqui, neste louco, tenho habitado todos estes
anos, sem coisa alguma a fazer senão renovar sua dor durante o dia e
distrair sua tristeza noite. Não posso suportar mais tempo meu fardo,
e agora me rebelo. Segundo Eu: Tua sorte é melhor que a minha, irmão,
pois fui incumbido de ser o eu alegre deste louco.  Rio suas risadas e
canto suas horas felizes, e com os pés de tres asas danço seus mais
brilhantes pensamentos. Eu é que devo rebelar-me contra minha
fatigante existência. Terceiro Eu: E o que direi eu, o Eu do amor,
tição inflamado de bárbaras paixões e fantásticos desejos? Sou eu, o
Eu doente de amor, que me revolto contra este louco. Quarto Eu. Entre
vós todos, sou o mais infeliz, pois nada me foi dado senão abominável
ódio e aborrecimento destruidor. Sou eu, o Eu tempestuoso, o único
nascido nas negras cavernas do Inferno, que devo protestar por servir
a este louco. Quinto Eu: Não. Sou antes eu, o Eu pensante, o Eu
fantasista, o Eu da fome e da sede, o único fadado a vagar sem
descanso à procura de coisas desconhecidas e de coisas ainda não
criadas. Sou eu, não vós outros, que devo revoltar-me. Sexto Eu: E eu,
o Eu trabalhador, o lastimável obreiro, que, com mãos paciente e olhos
ansiosos, afeiçôo os dias em imagens e dou aos informes elementos
formas novas e eternas, sou eu, o solitário, que devo revoltar-me
contra este louco sem repouso. Sétimo Eu: Como é estranho que vós
todos vos revolteis contra este
homem por ter cada um de vós um destino determinado a cumprir. Ah,
fosse eu como um de vós, um Eu com um destino determinado! Mas não
tenho nenhum, sou o Eu sem ocupação, o que se senta calado e vazio em
lugar algum e tempo algum, enquanto estais ocupados recriando a vida.
Sois vós ou eu, companheiros, quem se deve revoltar? Quando o sétimo
Eu assim falou, os outros seis olharam-no com pena, mas não disseram
mais nada. E enquanto a noite ia ficando mais profunda, um após outro
foram adormecendo, envoltos numa nova e feliz submissão. Mas o sétimo
Eu permaneceu acordado a olhar para o nada, que está atrás de todas as
coisas." (Gibran Khalil Gibran).


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